No início de mais uma semana de quarentena, a quarta para ser mais precisa, partilho uma história, uma história que poderá ou não fazer a diferença na forma como vivemos estes tempos de Covid-19. Uma história para refletirmos sobre a pessoa que queremos ser, a que vê o copo meio cheio ou a que vê o copo meio vazio. Boa semana!
“Num tempo em que não havia satélites, nem Internet, nem boletim meteorológico, havia um rapaz que afirmava conseguir controlar, através da vontade o estado do tempo.
Os outros miúdos passavam o tempo a queixar-se do tempo: ora porque fazia muito calor quando queriam passear a pé, ora porque estava frio quando queriam ir à praia, ora porque fazia vento nos piqueniques, ora porque chovia quando queriam jogar à bola. Mas este rapaz declarava não ter problemas desses. Ele dizia que o tempo se vergava à sua vontade.
No princípio ninguém acreditava, mas ele insistia tanto nesta ideia, e estava sempre tão satisfeito com o estado do tempo, que os amigos resolveram tentar perceber o que se passava.
O seu truque era simples, dizia ele. De manhã, depois de escolher o que ia fazer, chamava São Pedro e pedia bom tempo.
Os amigos organizaram-se entre eles e decidiram que durante uma semana ficaria sempre alguém junto do rapaz, para verificar como isto funcionava.
Para aquela semana haviam combinado uma ida à praia, um piquenique e um passeio a pé, só para teste.
No dia da ida à praia fazia um frio de rachar. Quando lá chegaram ouviram-no comentar:
– Olha que bom, não há ninguém! Hoje podemos jogar à bola sem estar preocupados com as outras pessoas. Podemos jogar o tempo que quisermos sem suar em bica.
No dia do piquenique levantou-se uma ventania daquelas que levam os guardanapos se nos apanham distraídos, e ouviram-no comentar:
– Ainda bem! Com vento não há moscas, e sabe tão bem gozar a brisa…!
No passeio a pé choveu, tiveram que se abrigar debaixo de uma árvore, mas assim que a água parou de cair ele chamou-lhes a atenção para como é lindo ouvir os pássaros cantar depois da chuva, como a terra agradece com o seu aroma, como tudo fica mais verde e mais limpo quando o tempo levanta.
Era o último dia da semana. Regressavam da escola quando começou a tempestade. Ainda não chovia, mas os relâmpagos cruzavam os céus e os trovões faziam um acompanhamento sonoro com efeitos surround. Os outros encolheram-se, assutados, enquanto ele sorria.
– Costumo dizer à minha irmã que, de cada vez que vê um relâmpago, ela deve sorrir, pois são os anjos a tirar-lhe fotografias.
E na “fotografia seguinte” houve sorrisos em todas as bocas.”
Texto de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela em Histórias para contar consigo, Oficina do Livro
Fotografia de Foto de Binti Malu no Pexels
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